III FESTA LITERÁRIA DE MARECHAL DEODORO - 3ª FLIMAR

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sábado, 25 de junho de 2011

CARVÃO ANIMAL SERÁ LANÇADO NA 2ª FLIMAR - ANA PAULA MAIA


Entrevista- Carvão animal, de Ana Paula Maia.

  1. - Em Carvão Animal é o terceiro volume da trilogia “A saga dos brutos”. Mas ao contrário dos dois outros volumes, você optou por volta ao formado de romance. Por quê?

As novelas Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos e O trabalho sujo dos outros, possuem narrativas em que os seus respectivos protagonistas estão em todas ou quase todas as cenas da história. Carvão animal, ganha ares de romance, devido a pluraridade de personagens, as subtramas, e a descentralização do protagonista.

  1. - Novamente, seus personagens enfrentam um cenário desolador e de desesperança. No entanto, não expressam revolta ou desespero, vivendo mecanicamente. Por que decidiu caracterizá-los dessa forma?

A trilogia A saga dos brutos, lida diretamente com a questão homem/trabalho. A submissão do homem pelo trabalho e como a atividade que exerce interfere em seu caráter. São homens resignados, como tantos que vemos, ou preferimos não enxergar. Escrever sobre isso envolve uma questão político/social, mas está muito mais para o social, e política, pois o homem é um animal política. Aliás, a saga dos brutos, em muitos momentos lida com a questão da ética e da moral.

  1. O romance está marcado por elementos de forte simbologia. Seria a presença do fogo no cotidiano de Ernesto Wesley e Ronivon uma representação de seus infernos particulares?

O fogo simboliza renascimento, vida, morte, vitalidade, fúria, poder. O fogo também é um elemento transcendental. Mais do que uma representação dos seus infernos particulares, para esses dois personagens em questão, que lidam diretamente com ele, o fogo exerce muito mais um poder de fascínio.

  1. Os irmãos têm de lidar com o fogo em situações opostas: no trabalho de Wesley, ele o enfrenta para salvar vidas, já para Ronivon o fogo sacramenta a morte. Essa dualidade foi proposital?

Sim.

  1. Outro elemento presente em toda a história são os dentes, popularmente associados à morte. No entanto, em seu romance você subverte esse significado: para as vítimas de incêndio são a única forma de serem identificadas e tiradas da indigência, para o coveiro , seus dentes são a herança de uma vida melhor para sua filha. Era essa sua intenção?

Sim. Fogo e dentes estão relacionados em casos de grandes desastres e é a única forma de identificar uma pessoa. Popularmente, quem sonha com dentes, é porque alguém conhecido vai morrer. O bombeiro Ernesto Wesley tem uma grande preocupação em conservar os dentes para o caso de morrer num incêndio e ele sabe que só pelos dentes poderá ser identificado. É um bem precioso. Por outro lado, os dentes do Palmiro, são um bem precioso também por possuir valor monetário, já que possui muitos revestimentos de ouro.

  1. Em Carvão Animal, as pessoas são tratadas como objetos descartáveis, que devem ser cremadas para dar “espaço a mais material”, independente da classe. No fim, não há muita diferença entre os homens bestas retratados por você e o resto da sociedade?

Não. A ideologia da trilogia se mantém. É importante conservar a unidade da obra. Vejamos, na morte, é onde todos se igualam, seja debaixo da terra, seja transformado em cinzas de carvão. O que fica é somente a memória do que se foi. A morte nem sempre é uma tragédia. O ente querido que morre, às vezes não é tão querido assim. A morte é alívio para uns vivos e sofrimento para outros. Alguém sempre lucra com ela, alguém sempre perde com ela. Cremar corpos, enterrar os mortos, abater porcos, quebrar asfaltos e apagar incêndios são tarefas práticas para que uma sociedade mantenha a ordem. Seja em Abalurdes, seja em qualquer outro canto do mundo.

7. Os dois primeiros volumes da trilogia foram escritos primeiramente na internet. Por que você decidiu fazer diferente com “Carvão Animal”?

Eles nunca foram escritos primeiro na internet. Sempre foram escritos primeiro no papel, formato livro impresso. Apenas o “Entre rinhas...” foi publicado na internet em 2006. “O trabalho sujo dos outros” teve o primeiro capítulo publicado na internet sob outro título, mas apenas o primeiro capítulo.

  1. Neste volume, a atmosfera sombria de seus romances continua presente. No entanto, ela é expressa de maneira mais sutil. Você considera isso um amadurecimento de sua escrita?

Acho que cada história pede uma atmosfera. Acho esse livro mais amadurecido sim, acho o meu melhor livro até o momento. Essa evolução precisa acontecer. Porém, o assunto do livro já é tão pesado, que decidi pegar mais leve. Isso foi uma decisão desde o começo. Abalurdes é uma cidade tão espessa e sombria que não precisa carregar na tinta, para marcar a pintura, entende? Abalurdes, a sua atmosfera e os seus personagens que respiram diariamente a fuligem do carvão que se espalha nos céus da cidade, é que me deu o tom exato para contar essa história, que às vezes até parece uma fábula.

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