III FESTA LITERÁRIA DE MARECHAL DEODORO - 3ª FLIMAR

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sexta-feira, 15 de julho de 2011

UM TEXTO DE CELSO GOMES



ELEIÇÃO NA ABL

O jornalista Merval Pereira foi eleito para a Academia
Brasileira de Letras - ABL em 2 de junho de 2011, ocupando a cadeira
31 e susbstituindo o escritor Moacyr Scliar falecido no início do ano.
Merval recebeu 25 votos, enquanto Antônio Torres recebeu apenas 13
votos, com uma abstenção.
O revés não foi de Antônio Torres, mas da literatura brasileira.
Merval escreveu dois livros: O Lulismo no Poder, Editora
Record, 2010, uma coletânea de artigos publicado em O Globo; e A
segunda guerra, a sucessão de Geisel, Brasiliense, 1979 - com André
Gustavo Stumpfum. Durante os oito anos de governo de Lula, Merval, que
possui profunda ligação com as Organizações Globo – ocupando diversos
cargos nesta, sendo, atualmente, colunista do jornal O Globo e
comentarista político na rede CBN e do canal Globo News – fez oposição
sistemática ao Governo petista.
Antônio Torres – que nos deu a honra de abrir a edição
eletrônica do Algo a Dizer com uma entrevista bastante interessante
(http://algoadizer.com.br/site/exibirEdicao.aspx?MATERIA=22) – nasceu
no pequeno povoado do Junco (hoje Sátiro Dias), no interior da Bahia,
no dia 13 de setembro de 1940. Posteriormente, mudou-se para
Alagoinhas para estudar e, mais tarde, foi para Salvador, onde se
tornou repórter do Jornal da Bahia. Aos 20 anos, transferiu-se para
São Paulo, empregando-se no Última Hora. Depois de alguns anos
trabalhando na Imprensa, Torres passou a trabalhar em publicidade.
Antônio Torres viveu três anos em Portugal e atualmente se
dedica exclusivamente à atividade literária na qual se iniciou com 32
anos, quando lançou seu primeiro romance, Um cão uivando para a Lua,
considerado pela crítica especializada como a revelação do ano. O
segundo romance, Os Homens dos Pés Redondos, ambientado em Portugal,
confirmou suas qualidades de escritor. O grande sucesso veio em 1976
com Essa terra, romance autobiográfico, abordando a questão do êxodo
rural de nordestinos em busca de uma vida melhor nas grandes
metrópoles do Sudeste brasileiro. Esse livro foi traduzido para o
francês, abrindo o caminho de Torres para a carreira internacional,
que hoje tem seus livros publicados em Cuba, na Argentina, França,
Alemanha, Itália, Inglaterra, Estados Unidos, Israel, Holanda, Espanha
e Portugal.
Torres, porém, não restringe seu universo literário ao
interior do Brasil e à temática nordestina, escrevendo com a mesma
desenvoltura sobre temas urbanos, como em Um cão uivando para a Lua,
Os homens dos pés redondos, Balada da infância perdida e Um táxi para
Viena d’Áustria; bem como sobre temas históricos: Meu querido Canibal
e O nobre sequestrador.
Em 1998, Torres foi condecorado pelo governo francês como
“Chevalier des Arts et des Lettres”, por seus romances publicados na
França. Em 2000, ganhou o Prêmio Machado de Assis, da Academia
Brasileira de Letras, pelo conjunto da sua obra. Em 2001, foi o
vencedor, junto com Salim Miguel por Nu na escuridão do Prêmio Zaffari
& Bourbon da 9.ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, RS,
por seu romance Meu querido canibal, no qual Torres se debruça sobre a
vida do líder tupinambá Cunhambebe, o mais temido guerreiro indígena
brasileiro; Em 2003, seu romance O nobre sequestrador foi finalista no
Prêmio Zaffari & Bourbon; e, finalmente em 2006, Antônio Torres
publicou o romance Pelo fundo da agulha, com o que fechou uma trilogia
iniciada com Essa terra e prosseguida com O cachorro e o lobo. Este
livro foi um dos vencedores do Prêmio Jabuti e finalista do Prêmio
Zaffari & Bourbon, da Jornada Literária Nacional de Passo Fundo.
Em suma, estamos diante de um grande escritor, pois sua obra
é capaz de traçar a história secreta do homem brasileiro, de nos
impingir a dor e a miséria humana e uma grande literatura se mede pela
quantidade de miséria, infelicidade, nostalgia, melancolia, aflição
que é capaz de forjar em seus leitores. Torres é uma voz, cuja força
impõe o silêncio, um escritor capaz de semear tempestades. O
romancista preterido pela ABL, conforme nos ensina Marcel Proust,
produz um instrumento ótico para ajudar o leitor a discernir aquilo
que sem sua obra ele talvez não percebesse por si próprio.
Esse pequeno artigo tem o condão de demonstrar nossa
indignação, pois Antônio Torres, um dos nomes mais importantes de sua
geração, com uma obra expressiva, autor premiado, com várias edições
no Brasil e traduções em muitos países, foi preterido na Casa de
Machado de Assis para um jornalista que somente escreve artigos
políticos conservadores contra o Governo de esquerda eleito
democraticamente, e que, na última eleição, fez campanha abertamente
para José Serra, reverberando, em sua coluna, fatos negativos para a
candidata Dilma, tais como a acusação de que o PT e Dilma teriam
forjado o dossiê de Amaury Ribeiro Jr. contra Serra. Posteriormente, a
Polícia Federal indiciou Amaury Ribeiro Jr. e foi divulgado pela
imprensa que o tal dossiê seria obra de Aécio Neves e O Estado de
Minas, na disputa pela candidatura tucana no ano anterior às eleições.
Fica aqui o nosso protesto. "

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