III FESTA LITERÁRIA DE MARECHAL DEODORO - 3ª FLIMAR

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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

DICA DE ANTÔNIO TORRES

SEXTA-FEIRA, 26 DE AGOSTO DE 2011

Lêdo Ivo por Fabio Coutinho


O VENTO DO MAR
Como costuma dizer o jornalista Elio Gaspari, há um grande livro na praça. Pesquisado, selecionado e organizado pelas mãos competentes e caprichosas de Monique Cordeiro Figueiredo Mendes, O VENTO DO MAR reúne as memórias literárias e pessoais de Lêdo Ivo, o poeta, contista, romancista e ensaísta alagoano radicado no Rio de Janeiro desde 1943. A edição, belíssima, é resultado de uma feliz parceria da Contra Capa com a Academia Brasileira de Letras, para a qual Lêdo foi eleito, por unanimidade, em 1986.
Além da primorosa seleção de textos em prosa e verso, a obra expõe um rico acervo iconográfico, refletindo as incontáveis andanças do escritor pelo Brasil e pelo mundo, viajante culto, curioso e incansável que sempre foi. As capas de seus inúmeros livros, traduzidos em vários países e nos mais diversos idiomas, também figuram na edição, permitindo ao leitor percorrer um fascinante itinerário editorial, revelador do interesse alienígena por um dos nomes centrais de nossas letras contemporâneas.
Os perfis de confrades e amigos falecidos são simplesmente irretocáveis, confirmando a sentença irrecorrível de Antonio Candido, que certa feita advertiu que "Lêdo Ivo escreve num dos estilos mais belos e originais que possuímos". A seleta de ensaios (CARTILHA DE PASÁRGADA) sobre a poesia de Manuel Bandeira justificaria um livro à parte, assim como registro especial merece a história de amor vivida pelo poeta com Lêda, companheira de mais de meio século e mãe de seus três filhos, e a respeito de quem o marido eternamente apaixonado declara: "Eu a amei desde o primeiro instante em que a vi."
Há, ainda, uma antologia poética de tirar o chapéu, intitulada OS SINOS DE MACEIÓ, justa e incontida celebração da terra natal do grande vate. Nela, estão presentes o mar e os navios, o vento e as ruas tortas, o farol desaparecido e os caranguejos dos mangues, os morcegos e o mormaço, o porto e as lagunas. E, nas palavras do próprio Lêdo Ivo, "(...) um tesouro que não está escondido nas dunas: a nossa alagoanidade, a nossa maneira de ser e estar, amar e odiar, viver e morrer. E guardamos um segredo, um mistério, um encantamento, uma alegria e uma dor que são nossos, exclusivamente nossos, de quem nasceu em nossas terras moles ou junto às nossas águas. E o nosso emblema é o vento do mar."
Da generosa varanda de seu apartamento carioca da Rua Fernando Ferrari, contemplando a indescritível enseada de Botafogo, o colossal bardo alagoano ainda aspira, décadas após a partida sem volta, o vento do mar de Maceió.




Fabio de Sousa Coutinho, advogado e bibliófilo, é membro titular do PEN Clube do Brasil e do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.

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