O denso e belo “Suíte de Silêncios” é o primeiro romance da contista paraibana Marilia Arnaud. Uma estreia no gênero que chega com muito fôlego e com uma escrita tocante, recheada de lirismo e pontuada por uma atmosfera densa. No centro da narrativa, está Duína, mulher abandonada duas vezes – primeiro pela mãe, em seguida, pelo amante – que não consegue esquecer o passado. Fechada em si mesma, alheia ao afeto pleno de quem apenas confia, Duína se apresenta como um personagem que ainda precisa digerir o que se passou a fim de seguir adiante. Contudo, presa ao seu ato reiterado de fazer o luto e controlar os afetos, a mulher, musicista e professora de violino, parece irremediavelmente só e melancólica. Como se tivesse aceitado, resignada, a infância feita de abismos e, sobretudo, a presença inarredável das noites que nunca cedem espaço para as manhãs na vida da menina cuja mãe sumiu sem avisos e cujo pai se entregou à ação exclusiva de padecer da ausência.
A relação de dependência da personagem com o passado surge como uma procura por sua própria constituição na medida em que retoma as memórias e ordena o vivido. Na busca pela compreensão do passado, ou melhor, na atividade de realocar lembranças e expectativas, Duína revive as angústias da criança e o peso que se tornou sua vida adulta, da qual extirpou as esperanças de uma relação amorosa idealizada. Aqui, as palavras dor, intensidade e peso surgem com naturalidade para descrever o personagem de Arnaud.
Suíte de Silêncios é um romance extremamente feminino, extremamente bem escrito, extremamente triste e – sabe o que é dizer isso como elogio? – extremamente lento. Aborrecido? Nunca, never,jamás! E como ela conseguiu? Há uma cena incrível de equitação, no filme Mazeppa, de Bartabás, no qual ocorre uma demonstração de absoluto controle de um galope ao fazer a montaria – a cada movimento - quase não sair do lugar. Assim, Marília Arnaud – no que tange ao tema de sexualidade de sua narrativa de 190 páginas, por exemplo – entrega-nos um primeiro toque íntimo, o de Victor em Duina, apenas na página 174, e – na seguinte –, a do prof. Ramon. Só na página 179 o grande amor da jovem, João Antonio, faz amor com ela pela primeira vez. De novo a questão: Como ela consegue nos manter presos a seu depoimento? Como os cavaleiros de Bartabás: entregando-nos – perfeito em si mesmo – cada momento, cada etapa de sua evolução.
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